segunda-feira, 3 de setembro de 2012

- A Revelação por meio dos nomes divinos -


Os nomes e epítetos Eloím e Iavé já foram apresentados em discussões ante­riores a respeito de Deus como Criador e daremos novamente atenção a eles no desenvolvimento da narrativa de sua conduta com a humanidade e, em especial, com Israel. Por isso, a consideração subseqüente dos nomes divinos trata apenas de alguns nomes menos conhecidos e que ocorrem menos.
Abraão, um ano antes do nascimento de seu filho Isaque, desanimado com a espera para ter um filho da aliança, foi visitado pelo Senhor que lhe disse: "Eu sou o Deus todo-poderoso; ande segundo a minha vontade e seja íntegro. Esta­belecerei a minha aliança entre mim e você e multiplicarei muitíssimo a sua descendência" (Gn 17.1,2). Essa é a primeira ocorrência de uma auto-designaçäo por meio da qual Deus revelou algo de seu caráter. Os outros nomes encontrados até aqui — Eloím (Deus) e Iavé (o Senhor) — são apenas declara­dos no texto e nunca são pronunciados pelo Senhor em algum sentido revela­dor. Conforme acabamos de mencionar, esses nomes receberão o tratamento devido em outros cenários mais reveladores. Como para o nome com o qual Hagar descreveu Deus no deserto; o nome usado, embora fecundo do ponto de vista teológico, foi a reação dela mesma ao que viu e àquele que ministrou para ela em seu momento de necessidade. Assim, ela chamou-o, pelo menos, de forma indireta de El Lahai Roi, "aquele que vive e vê" (Gn 16.14).
El Shaddai traduzido em Gênesis 17.1 por "Deus todo-poderoso", tem etimologia dúbia, mas pelo uso transmite a idéia daquele todo abundante que se aproxima em momentos de especial urgência e, por meio de seu poder, satisfaz a necessidade do homem. O nome, em sua primeira ocorrência, está associado com a bênção da aliança, particularmente na multiplicação da descendência (cf. Gn 12.2; 15.5). Isaque, invocando o nome El Shaddai, reiterou a bênção para seu filho Jacó para que este fosse "prolifero e muitipli[casse] os seus descendentes" (Gn 28.3). Depois do retorno de Jacó de Padã-Arã, Deus mesmo apareceu-lhe, identificando-se como El Shaddai, e prometeu: "De você procederão uma nação e uma comunidade de nações, e reis estarão entre os seus descendentes" (Gn 35.11). No fim, Jacó, em seu leito de morte, abençoou os filhos de José, Efraim e Manasses, desejando-lhes as mesmas coisas que El Shaddai prometera para ele (Gn 48.3,4; cf 49.25). O tema usual que permeia o uso do epíteto El Shaddai é mais evidente, é nesse nome e por meio desse nome que o Senhor abençoará seu povo Israel nas eras por vir.
Êxodo 6.2-5 é uma passagem crucial para o uso do nome El Shaddai vis-à-vis com a designação mais comum de Deus de Iavé (SENHOR). Na véspera da apresentação de Moisés diante do faraó, Deus disse-lhe: "Eu sou o SENHOR. Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como o Deus todo-poderoso, mas pelo meu nome, o SENHOR, não me revelei a eles" (w. 2,3). Afora as questões críticas, permanece o enigma da sugestão de Deus de que não se dera a conhecer como Iavé quando, na verdade, há inúmeras ocorrências desse nome nas narrativas dos patriarcas e até mesmo nos lábios dos próprios patriarcas. Na verdade, Gênesis 4.26 afirma explicitamente: "Nessa época [antes do dilúvio] começou-se a invocar o nome do SENHOR [ou seja, Iavé]".
A solução teológica mais satisfatória é que Deus jamais invocou seu nome Iavé enquanto fazia as promessas da aliança para os patriarcas, embora esse nome ocorra regularmente em contextos de aliança (por exemplo, 12.1; 15.1; 22.15).
Ele, antes, revelou-se como El Shaddai nessas situações. Agora, algo novo e muito importante está para acontecer na vida de Israel sob o comando de Moisés. Imediatamente, a questão deixou de ser terras, bens e descendência, mas a do êxodo redentor e da antecipação de uma aliança na qual Israel se empenharia em devotamento ao grande Rei, e nome Iavé capta melhor todas essas coisas envolvidas na aliança. El Shaddai, agora, daria lugar a Iavé como o nome pelo qual Deus dirigia o curso da história sagrada.
A revelação subseqüente deixa isso claro. A ocorrência do epíteto El Shaddai (ou apenas Shaddai) quase sempre é em textos poéticos e como paralelo a Iavé ou Eloím (por exemplo, Nm 24.4,16; Jo 5.17; 6.4,14; 8.3,5; 11.7; 13.3;passim em Jó; Sl 91.1; Is 13.6). Os outros usos carregam pouca ou nenhuma relevância teológica especial (Rt 1.20,21; Sl 68.14; Ez 1.24; 10.5; Jl 1.15).

Fonte: Eugene Merrill – Teologia do Antigo Testamento.

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