Primeira Parte:
Marcos 3.21 está localizado no meio da controvérsia sobre Belzebu. O texto dá a entender que a família achava que Jesus não estava em seu juízo perfeito — provavelmente porque ele lidava com demônios — e resolveu buscá-lo, com o propósito de levá-lo de volta para casa. Entretanto, no contexto imediato de Marcos 3.21, é dito que Jesus estava numa casa e as multidões o estavam assediando para obter todo tipo de cura, e havia tanta gente que os discípulos nem conseguiam comer. O resultado daquela decisão familiar de fazer alguma coisa está registrado em Marcos 3.31-35. Nessa passagem, a mãe e os irmãos de Jesus estão do lado de fora da casa onde Jesus ensinava. A multidão informa a Jesus que sua mãe e seus irmãos procuram por ele. Jesus responde: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”. Depois, olha para os que estão sentados à sua volta e acrescenta: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Aquele, pois, que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (3.33-35). Essa história poderia se chamar: “Jesus se desliga de sua família”. O ponto importante de nossa análise é que Jesus não se submete à autoridade de sua mãe neste contexto e, na verdade, dá a entender que sua família principal é a família da fé — não os que querem confiná-lo, mas os que fazem a vontade de Deus e procuram confirmá-lo.
A outra história sobre Maria nesse evangelho encontra-se em Marcos 6.3, 4, e não fica claro sequer que Maria está presente na narrativa. Jesus é chamado de filho de Maria, seus quatro irmãos são listados pelo nome e é dito que suas irmãs estão presentes na congregação. Jesus, então, diz: “Um profeta não fica sem honra senão na sua casa, entre seus parentes e na própria casa”. Mais uma vez, há uma nota dissonante. A família de Jesus, incluindo sua mãe, não o entende nem o trata com a devida honra. Isso está de acordo com João 7.5, que diz que os irmãos de Jesus não acreditaram nele durante seu ministério. Chamar Jesus de “filho de Maria” também pode ter um cunho polêmico, pois, na sociedade patriarcal, uma pessoa geralmente era reconhecida como filho do pai, mesmo que este já tivesse falecido. Na verdade, pode ser uma forma de insinuar que as origens de Jesus eram duvidosas, o que explicaria o fato de eles não receberem a mensagem de Jesus com o coração aberto. De qualquer modo, o retrato de Maria é, ao mesmo tempo, limitado e pouco elogioso nesse evangelho. Assim como ocorria com os personagens secundários numa biografia antiga, Maria é mencionada somente à medida que tem contato com o personagem principal da história ou lida de alguma forma com ele.
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